20051130

Sobre os poetas

Os poetas conseguem, num simples pensar, encontrar as palavras certas que expressam com sinceridade aquilo que nós gostaríamos de falar. Os poetas fazem isso com facilidade, assim tão de repente, no relance de um instante, no vidrar de um olhar. Nós que não somos esses poetas, para essas palavras poder juntar e fazer com que elas também possam expressar aquilo que nós gostaríamos de dizer, já não o fazemos assim tão de repente. Isso não é tarefa fácil como, simplesmente, para sentir a chama da vida a incandescer dentro de nós, ter que apenas respirar. Achar as palavras certas, guardadas no bojo do coração, carece de mais arrojo, esse dom natural que esses poetas tem e que nós, humildes, não temos. Os poetas conseguem, num simples pensar, encontrar as palavras certas, palavras essas que ficaríamos eternamente às procurar. Por isso, quase sempre, para nosso sentimento expressar, as palavras desses poetas - essas sim palavras belas!- elas temos que usar. Quando isso acontece- também quase sempre - não precisamos ficar como loucos, como dementes, a procurá-las eternamente, pois as temos em nossos lábios, para nosso sentimento mostrar. E quando isso acontece, assim quase como um milagre, a nossa voz, a nossa humilde voz, assume a voz desses poetas!

Quando fazemos isso utilizamos palavras alheias, usurpadas, eu sei; como estas do mestre Pablo Neruda: “NÃO TE AMO como se fosses/ rosa de sal, topázio/ Ou flecha de cravos que propagam o fogo./ Te amo como se amam certas coisas obscuras,/ Secretamente, entre a sombra e a alma;/ Te amo como a planta que não floresce mas leva/ Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,/ E graças a teu amor vive escuro em meu corpo/ O apertado aroma que ascendeu da terra;/ Te amo sem saber como,/ nem quando, nem onde;/ Te amo diretamente sem problemas/ nem orgulho;/ Assim te amo porque não sei/ amar de outra maneira,/ Senão assim deste modo em que não sou nem és,/ Tão perto que tua mão/ sobre o meu peito é minha,/ Tão perto que se fecham teus olhos/ com meu sonho,/ Que ANTES de amar-te, amor, nada era meu./ Vacilei pelas ruas e as coisas:/ Nada contava nem tinha nome./ O mundo era do ar que esperava./ E conheci salões cinzentos,/ Túneis habitados pela Lua,/ Hangares cruéis que se dependiam,/ Perguntas que insistiam na areia./ Tudo estava vazio, morto e mudo,/ Caído, abandonado, decaído;/ Tudo era dos outros e de ninguém,/ Até que tua beleza e tua pobreza,/ De dádivas encheram o outono.”
Conclusão: de carteiro e poeta todos nós temos um pouco, pois esse é o nosso caminho!

20051129

Roda-pé de caminhão

A forma mais simples e eficiente de perpetuar um pensamento é expressá-lo em uma frase curta, clara, concisa e objetiva (na poesia isso chama-se Hai-Kai). Obviamente essa mensagem deve sintetizar a essência daquilo que queira ser dito. O grande filão dessa arte que expressa anonimamente o pensamento popular são as frases escritas nos pára-choques dos caminhões. Essas frases não só nos divertem como também, muitas vezes, nos levam à reflexões filosóficas. Comumente no trânsito quase sempre deparamos com uma à nossa frente, principalmente se o veículo for um caminhão. Há também quem as anote e depois as reuna em publicações escritas.

Para exemplificar o que estou dizendo, vou contar aqui uma piada: Um caminhoneiro teimoso havia escrito a seguinte frase no pára-choque do seu caminhão: :-) “Não carrego mulher da vida, nem policial.” Ao passar pelo posto rodoviário, o patrulheiro mal humorado viu a frase, parou o caminhão, e disse: “Nesta você passa, mas na próxima eu quero ver isso dai apagado, senão o caminhão vai ser retido!” Na semana seguinte o caminhoneiro passou novamente pelo posto do guarda, que foi conferir a frase. No pára-choque do caminhão agora estava escrito: :-) “Apaguei, mas não carrego!”

Não por acaso, me caiu nas mãos o livreto “Revista das estradas”, recheado dessas frases. Eis abaixo algumas interessantes:

:-) Não me acompanhe que não sou novela;
:-) Casamento é uma soma de afetos, uma subtração de liberdades, uma multiplicação de problemas e uma divisão de bens;
:-) Não dirijo dormindo para não deixar chorando quem me espera sorrindo;
:-) Não sou dono do mundo, mas sou filho do dono;
:-) Dinheiro não traz felicidade, mas acalma os nervos;
:-) Mais vale um cachorro amigo, do que um amigo cachorro;
:-) Baixinho só anda em trajes menores;
:-) Amigo do Sol e amante da Lua;
:-) Saiba ir, para poder voltar;
:-) Ser esquerda é fácil, duro é ser direita;
:-) Voando sem asa com saudade de casa;
:-) Motorista irritado, perigo dobrado;
:-) A calúnia é como carvão, quando não queima, suja;
:-) Da traição nem Cristo se livrou;
:-) Se Deus é teu pai, eis aqui o teu irmão;
:-) Muitos me seguem, mas só um me acompanha;
:-) Quatro pneus cheios e um coração vazio;
:-) Não julgue o livro pela capa, nem a mulher pelo sorriso;
:-) O casamento é eterno, mas a paciência não; e, pra encerrar,
:-) PENSANDO NAQUILO.”
Pensando nisso, ou naquilo isto é muito divertido, mas, por favor "mãe tenha distância"...



20051128

Sobre os paralelos

Bem me parece, em reflexões e preces, que minha auto-estima anda tem oscilado muito ultimamente, senão não teria escrito o poema “Definição: Sou feliz, feliz sou/ Aos olhos dos outros./ Estou feliz, feliz estou./ Porém dentro,/ Profundamente dentro,/ No âmago da alma,/ No solo do coração,/ Onde se alojam os sentimentos,/ Onde fermentam as emoções,/ Estou vazio e triste,/ E sem sentido nenhum,/ Coitado de mim,/ Perdido num mundo sem fim,/ Sem saber de onde vim/ E sequer saber para onde vou.”

O poeta Wladimir Wladimirovith Maiakóvski afirmou certa vez: “prefiro morrer de vodka do que de tédio”. Acredito eu que ele tenha dito isso em alguma crise depressiva, muito provavelmente por frustração amorosa (pela ausência de sua musa, Lila Brik) ou mesmo desiludido com o rumo que a Revolução Russa (de Outubro!) tomou sob o jugo de Josef Stálin. Apesar de sua genialidade poética, Maiakóvski pecou pela falta de auto-estima, senão não teria ele fraquejado, no auge da fama, e o coração varado com uma única bala de um velho revólver, por seu dedo disparado, na noite de 14 de abril de 1930 (Maiakóvski se suicidou!).

Também no auge da fama o genial poeta Federico Garcia Lorca teve o mesmo fim (a morte!), em 1936, fuzilado em Granada, no início da Guerra Civil Espanhola, à mando de Francisco Franco. Gênios e poetas em épocas iguais, mortes distintas, ideais idênticos, socialistas e utópicos, românticos e autênticos; porém, em auto-estimas diferentes, infinitamente, desiguais!

Uma certa questão sobre “paralelos” causou a Guerra do Vietnã. É melhor parar por aqui com essa história de traçar paralelos - e nem mesmo meridianos! - pois, particularmente, aprecio mais a obra de Maiakóvski (com ou sem vodóvska!).

Hoje tudo começou porque eu simplesmente queria falar sobre a auto-estima, mas entrei em parafuso e cai no paralelo...


20051125

Quase um otário...

Com ditado não se brinca. Vai aqui o meu recado, ao homem instruído e ao pobre-coitado: já diz o ditado que errar é humano, mas mesmo sem perfeição, persistir em perseguir o mesmo erro é burrice.
Disso ninguém escapa ou fica por menos, pois um dia isso irá ocorrer. Por mais esperto que seja, todo indivíduo, em algum momento da vida, tem a chance- que não deixa escapar!- de ser feito de otário. Muito embora o mestre Aurélio defina como otário o indivíduo fácil de ser enganado, paradoxalmente, eu também acho que ser otário é natural aos homens de boa vontade.
Já publiquei em jornal minha crônica “Cara de Otário”. Ela relatava duas passagens de minha vida, após as quais a minha face, refletida no espelho, era exatamente essa, a do otário, e não tive pudor nem constrangimento de tornar isso público.
O tempo passa e a experiência aumenta, mas o otário também envelhece. No curto período de dois anos a máquina de lavar roupa de minha esposa já passou por duas revisões, que certamente pagariam uma máquina nova. Mas como o investimento era grande eu insisti no reparo da velha! Hoje ela está ótima, originalmente como antes. Permanece com o mesmo defeito (vazando), mas está funcionando.

Já com o filtro d’água a história foi diferente. Após a primeira revisão, que custou a metade do preço de um novo, quando ocorreu novo vazamento, não vacilei: retirei-o da parede e, em vez de tornar a consertá-lo, remeti-o ao ferro-velho, só com a passagem de ida.
A aposentadoria precoce do filtro gerou novo problema. Acostumados que estávamos a consumir água filtrada, para obtê-la eu tive que contratar os serviços do “agüeiro”, comprar suporte e galões apropriados, e arcar com o ônus da reposição semanal dessa água mineral.
Dias atrás eu fui fazer café e esqueci a torneirinha do suporte aberta (porque tocou o telefone e fui atendê-lo). Sim, escoou toda a água do galão (que era o último da semana!). O que não tem remédio, remediado está: para que não houvesse nenhuma reclamação familiar (dela!) eu enchi novamente o galão com água torneiral e ninguém (ela!) desconfiou.
Oras bolas, eu posso ter cara de otário, mas burro já provei que não sou!


20051124

Sobre o Karma

Uma das Leis de Newton preconiza que para toda ação existe uma reação de mesma força e intensidade, e esta Lei faz parte da mecânica clássica. Assim como esta também funciona a Lei do Karma. Segundo Saï Baba, todo homem produz algum tipo de Karma, que é o efeito do fruto de suas ações, presentes ou passadas, nesta ou em outras existências de nossa alma.

O homem não tem como permanecer quieto sem gerar Karma e isso ocorre desde seu nascimento até a sua morte. Entretanto, cada um de nós deve entender claramente qual é o Karma que ele deve praticar. Assim sendo, existem apenas dois tipos de Karmas: os que atam (Vishaya Karmas) e os que libertam (Sreyo Karmas).

Na humanidade atual, os Vishaya Karmas (os que atam) aumentaram acima de qualquer controle e, como resultado disso, aumentou a tristeza, a confusão e a miséria humana e, por meio deles, não podemos obter felicidade ou paz mental. Já os Shreyo Karmas (os que libertam), ao contrário, produzem, em cada ato, alegria e prosperidade progressiva. Estes Karmas dão bem-aventurança à alma (Atmananda) e, embora pareçam ser externos, não estão somente relacionados com a mera alegria exterior, pois sua atração está sempre direcionada ao nosso interior e este é o caminho certo, o caminho verdadeiro.

Os Karmas que atam incluem nossas atividades com relação aos objetos externos, e geralmente o homem se serve deles sempre com o desejo de obter lucro ou resultado satisfatório em suas ações. Esta ânsia por estas conseqüências leva-o ao atoleiro do “eu e meu” e ao demônio do ego (controle), principalmente à luxúria e à cobiça. Este é um caminho perigoso e cheio de labaredas, pois dar prioridade aos objetos sensoriais é o mesmo que dar importância ao veneno. Porém, o homem que, sem apego, se expõe a eles, mas que permanece sem interesse no resultado, poderá, sem maiores preocupações, sair-se vitorioso dos sentimentos do “eu e meu”.

Já os Karmas que libertam são puros, perfeitos; sem egoísmos e imutáveis. Sua característica é a importância dada ao fato da ação sem nenhuma idéia de receber em troca frutos ou benefícios, conforme foi elaborado no Gita (Nishkama Karma). A prática desta disciplina envolve o desenvolvimento da Verdade (Sathya), da Retidão (Dharma), da Paz (Santhi) e do Amor (Prema).

Se ao percorrer este caminho também praticarmos a repetição do Nome do Senhor, então obteremos alegria, bem-aventurança e a mais completa satisfação. Se todos trilhassem este caminho santo (oferecer tudo ao Senhor, sem nenhum desejo pelos resultados), o próprio Senhor cumularia a todos com tudo o que fosse necessário, com tudo o que merecessem e com toda a paz mental. Isso é muito fácil e, na verdade, é isso que produz alegria plena.

É muito difícil falar a mentira, pois, para falarmos sobre aquilo que não existe, primeiro temos que criar o inexistente, o que gera uma atmosfera de preocupações e inquietações, e isso leva o indivíduo ao mundo do medo e da fantasia. Agindo assim estaríamos atuando contra o Dharma . Portanto, seguir o Sreyo Karma (libertação) é seguir o caminho do Dharma (retidão), uma vez que o Vishaya Karma (prisão) só nos oferece dificuldade e complicação. O caminho de Atmananda (Felicidade da Alma) é eterno e sagrado. Palavras do Avatar Bhagavan Sri Sathya Saï Baba, de seu livro Yoga da Meditação.

20051123

Sobre as sete maravilhas do mundo

Sete eram as maravilhas do mundo antigo. Elas foram escolhidas no século II a.C. pelo poeta grego Antípater entre as obras mais apreciadas por gregos e romanos. Seis foram destruídas, e a que restou, ainda hoje, é a maior atração turística do Egito.

Curiosamente me lembro agora de uma passagem ocorrida nos meus tempos de solteiro. Eu e meu amigo “Monkey Casacão” (1.1) estávamos a desfrutar um “happy our”, numa tarde de sábado. As “louras vinham suadas”, geladinhas que estavam. De repente, “não mais que de repente”, veio à tona a angustiante questão: quais teriam sido as sete maravilhas do mundo antigo?

Foram precisas bem mais que sete cervejas para chegarmos a conclusão que as Pirâmides do Egito (Quéfren, Quéops e Miquerinos), única que remanesceu até os nossos dias, foi uma delas. Também concluímos que as Muralhas da China- construídas entre 210 e 215 a.C., e supostamente a única edificação humana visível do espaço - não constou dessa lista. A certeza quanto as outras seis ficaram em meras suposições e conjecturas. Embora tenham sido destruídas, com o transcorrer dos séculos elas foram sendo relembradas e, geração após geração, legaram à humanidade um clima nostálgico a seu respeito. Talvez tenha sido isso o que motivou essa nossa inesperada curiosidade histórica.
Afora estes detalhes sobre as Pirâmides e as Muralhas, de concreto, também elegemos as sete maravilhas do mundo moderno, a saber: a Torre Eiffel (Paris), o Arco do Triunfo (Paris), o Relógio Big Ben(Londres), a Torre de Pisa (Pisa), a Ponte Golden Gate (São Francisco), o Edifício Empire State (Nova Iorque), e a Estátua da Liberdade (Nova Iorque).
Como curiosidade mata, uma breve pesquisa bibliográfica resolveu a questão sobre as seis maravilhas restantes. Ei-las: Jardins Suspensos da Babilônia (destruída em data desconhecida), Estátua de Zeus (destruída por um incêndio em 475), Colosso de Rodes (destruída por um terremoto em 224 a.C.), Túmulo do Rei Mausolo (destruído por um terremoto no século XV), Templo de Ártemis (destruído pelos godos no século III a.C.), e o Farol de Alexandria (destruído por um terremoto em 1302).
Eu e meus amigos ainda nos reunimos esporadiacamente. Pensando nisso, em um próximo encontro, vou pôr em pauta a seguinte questão: era ou não roxa a barba de Barba Roxa? Se os conheço bem, para remexer o pó dessa velharia vai ser preciso encomendar uns dois engradados...

20051122

Quem procura acha!

De repente, estranhamente, o meu quintal ficou infestado de sauveiros. A troupe de galináceos garnisés nada pôde e nem pode fazer, pois essas formigas sempre agem no período noturno e, nesse horário, esse meu batalhão predador de elite já se recolheu à jabuticabeira para pernoitar.
Portanto, não houve jeito, tive que consultar o meu “Almanaque do Fazendeiro”. Se procurei mal procurado não sei dizer, pois nele não encontrei nada sobre formigas, mas, em compensação, descobri que “o rato é um perigo”. Vejam só:
“Rato só é inofensivo em desenho animado. Na vida real é uma praga. Os ratos se adaptam muito facilmente aos ambientes em que o homem vive, representando um grande perigo para nós, pois eles transmitem doenças como a peste bubônica, tifo, leptospirose, leishmaniose, salmonelose, toxoplasmose e giardíase. Eles montam a moradia perto de sua fonte de comida e usam sempre o mesmo caminho para chegar nela. Para mantê-los afastados é preciso manter tudo limpo e evitar deixar coisas de comer à disposição. Os alimentos, o lixo e as rações dos animais precisam estar bem guardados, de preferência dentro de recipientes fechados. Os ratos atacam também aves engaioladas.”
“Ratos costumam deixar pistas de sua passagem, como pegadas, pêlos, excrementos e objetos roídos. Também não baixe a guarda se encontrar um rato morto, pois eles nunca estão sozinhos. Trate de eliminar seus esconderijos vedando buracos e fendas. Alguns animais são predadores naturais destes roedores, como cães, gatos, cobras, corujas, gaviões e aves de rapina. Infestações podem ser combatidas por meio de desratização, feitas por empresas especializadas. Outro meio de combate é o emprego de ratoeiras, armadilhas com iscas envenenadas, fumigação com gases venenosos, inundação ou até mesmo o uso do fogo. Entretanto, todos os produtos que matam os ratos também envenenam as pessoas, por isso, mantenha as crianças e os animais domésticos afastados de tais produtos.”
Quanto aos ratos já estou craque, mas o meu problema continua a ser as formigas. Dada a presença dos galináceos (todos eles descendentes do finado “Ivan Denissovith”), não quero utilizar veneno para exterminá-las. Por enquanto procuro uma solução natural. Por favor, se alguém tiver algum tamanduá disponível para me emprestar, eu aceito, pois, até mesmo sarna pra coçar, quem procura acha!

20051121

O Saci

No Natal de 1997, a pedido da saudosa Vovó Clarice, o Papai Noel trouxe para o meu filho Gary Míchkim uma coleção completa dos livros infantis do Monteiro Lobato. Naquela ocasião, quando ainda estava com apenas sete anos, eu passei a ler para ele, antes de dormir, as histórias do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Eis abaixo como foi um desses momentos de então:
- Bobby, meu filho- eu lhe disse - já despachamos “Reinações de Narizinho” e “Viagem ao Céu”, hoje iniciaremos “O Saci”.
- Mas pai- ele respondeu - antes de começarmos o saci você precisa me dizer o que é um saci. Não adianta você ficar me contando histórias de coisas que eu não conheço porque não vou entender nada e dai não vou mais conseguir dormir direito, sendo que amanhã terei que acordar cedo e bem disposto para ir à escola.
Apesar de ser, na época, um pai principiante em contar histórias para o filho antes dele dormir, já estava me acostumando a esse tipo de coisa. Nesse dia, não deixei a peteca cair e continuei:
- Calma Bobby, que eu chego lá. Ainda estamos no título da história, mas já que você está impaciente para saber o que é um saci, eu lhe direi: O saci é um diabinho negro de uma perna só que anda solto pelo mundo, armando reinações de toda sorte e atropelando quanta criança existe. Traz sempre à boca um pitinho aceso, e na cabeça uma carapuça vermelha A força dele está na carapuça. Quem consegue tomar e esconder a carapuça de um saci fica por toda a vida senhor de um pequeno escravo.
- Mas que reinações ele faz? - indagou.
- Quantas pode: azeda o leite, quebra a ponta das agulhas, esconde as tesourinhas de unha, embaraça os novelos de linha, some com o dedal das costureiras, bota moscas na sopa, queima a comida que está cozinhando na panela. Quando encontra um prego, vira ele de ponta para cima para que espete o pé do primeiro que passar. Tudo de ruim que acontece numa casa é arte do saci. Também atormenta os cachorros, atropela as galinhas, gora seus ovos, persegue os cavalos no pasto e puxa as tetas das vacas. O saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequena que ele não faça.
Mal finalizado o primeiro capítulo, perguntei-lhe:
- Está ouvindo, Bobby filho? ....
-Thiago?
Ele dormiu. E como estampasse na face um leve sorriso, pensei comigo: coitado do saci, meu filho já escondeu-lhe a carapuça! A cuca, o lobisomem, a caipora, a mula-sem-cabeça, e os demais, ficaram pra depois, pois Bobby Pai também ficou com sono, senão....

20051118

Será que existe alguém mais distraído?

Se é que realmente existe a pessoa mais distraída do mundo, com toda a certeza, eu lhe faço concorrência. “Não sei se sonho./ Se sonho não me lembro./ Mesmo não sonhando,/ ou sonhando e não lembrando,/ vivo muito em devaneio”. Devanear é bom, distrai e relaxa. Devanear é estar envolto em um mar de poesia e inocência, é usufruir a magia de poder viver eternamente no mundo da fantasia, é poder instantaneamente transportar o pensamento lá para cima, nas nuvens, a mil quilômetros de altura, àquele universo fantástico e quimérico, que todos chamam de “mundo da lua”, ou "terra do nunca".
Portanto, considero o devaneio uma distração agradável. Entretanto, ser distraído, paradoxalmente, não é nenhum devaneio. Ser distraído é um péssimo costume. Muitos infelizmente são assim, distraídos, e isso os leva às mais inusitadas e desagradáveis situações. Mesmo eu que já estou acostumado aos devaneios, nem sempre deixo de sofrer pelas conseqüências de agir distraidamente.
Isso dito, já que pleiteio o posto, é preciso matar a cobra e mostrar a cobra e não, como dizem por aí, matar a cobra e mostrar o pau. Dias destes, por desatenção, incorri no erro grave de efetuar uma operação bancária com o cartão de crédito magnético e, em seguida, esquecê-lo na máquina do caixa eletrônico. Felizmente o cartão foi imediatamente devolvido à agência bancária pelo honesto cidadão que o encontrou. Sorte a minha pois somente notei a sua falta, dias depois, quando fui fazer uma nova operação.
Mas a coisa não para por aí, pois, o estrago foi maior no passado, quando, não sei como, sem sequer notar, deixei escapulir- pasmem! - a minha carteira com todos os documentos pessoais, dinheiro e diversos cartões, ao abrir a minha bolsa para pegar o controle remoto do portão eletrônico de minha casa, para entrar com a moto. Graças a Deus ela também foi encontrada e devolvida, mas dessa vez houve grande transtorno burocrático e algum prejuízo financeiro.
De outra feita, ao ir trabalhar pilotando a moto, devido aos sacolejos provocados pelos buracos existentes no calçamento da rua, perdi o relógio de pulso dourado, com pulseira de presilha, que havia ganho de presente de Natal de minha esposa, preciosidade comprada em três prestações e que hoje deve estar a ostentar o pulso de quem o encontrou.

Já quando perdi a “guaiaca” ...

"Citações"

Há quem me chame de “grande copião”. Eu próprio acho justo. Portanto, não me importo. Entretanto, há quem goste. E, por isso, não me canso:

Do Barão de Itararé: “Não é triste mudar de idéias, triste é não ter idéias para mudar.”

De Richard Bach: “Vê mais longe a gaivota que voa mais alto...”

De Antoine Saint-Exupéry: “Se você não encontra o sentido das coisas é porque este não se
encontra, se cria.”

De Oscar Wilde: “Se um homem encara a vida de um ponto de vista artístico, seu cérebro passa a ser seu coração.”

Do magistral Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.”

De Goethe: “Todos os dias deveríamos ler um bom poema, ouvir uma linda canção, contemplar um belo quadro e dizer algumas palavras bonitas.”

Ainda de Goethe: “Nunca estamos mais longe de nossos sonhos do que quando imaginamos possuir o que desejamos.”

De Nietzsche: “O aumento da sabedoria pode ser medido com exatidão pela diminuição do mau humor.”

De Nelson Mandela: “Depois de escalar um grande morro, descobrimos apenas que há muitos outros morros a escalar.”

De quebra, dois provérbios(um chinês; outro escocês):

O chinês: “Antes de começar o trabalho de modificar o mundo, dê três voltas dentro de sua casa”

O escocês: Um bom whisky é produzido com um bom malte. Êpa, esse é falso!

O legítimo: “O sorriso custa menos que a eletricidade e dá mais luz.”

Hoje eu economizei palavras. Mas disse tudo. Se alguém sorriu, não foi por acaso. Então, até breve!

20051117

Você é especial?

Então vejamos:
“Se fosse possível reduzir a população do mundo inteiro em uma vila de apenas cem pessoas, essa vila seria composta de: cinqüenta e sete asiáticos, vinte e um europeus, quatorze americanos (nas três Américas) e oito africanos. Destes, sem entrar em maiores detalhes (o grifo é meu!): cinqüenta e dois seriam mulheres e quarenta e oito seriam homens, dos quais setenta não brancos, trinta brancos; setenta não cristãos e trinta cristãos, também sem entrar em detalhes sobre as diversas ramificações do cristianismo (este grifo também é meu!). Destas cem pessoas, SEIS possuiriam 59% da riqueza dessa vila e, curiosamente, esses SEIS habitantes seriam norte-americanos; Por outro lado, oitenta viveriam em casas inabitáveis, setenta seriam analfabetos, cinqüenta sofreriam de desnutrição, um estaria para morrer e outro para nascer, um teria computador e também apenas um teria formação universitária.”
"Se o mundo atual for considerado sob esta perspectiva, a necessidade de aceitação, de compreensão e de educação torna-se evidente. Considere ainda que se você acordou hoje mais saudável que doente, você tem mais sorte que um milhão de pessoas que não verão a próxima semana. Se nunca experimentou o perigo de uma batalha, a solidão de uma prisão, a agonia da tortura, a dor da fome, você tem mais sorte que quinhentos milhões de habitantes do mundo. Se você pode ir à igreja sem o medo de ser bombardeado, preso ou torturado, terá mais sorte que três milhões de pessoas no mundo. Se você tem comida na geladeira, roupa no armário, um teto sob sua cabeça, um lugar para dormir, considere-se mais rico que 75% dos habitantes deste planeta. Se tiver dinheiro no banco, na carteira ou mesmo um trocado qualquer em alguma parte, considere-se entre os 8% das pessoas com a melhor qualidade de vida no mundo. Se seus pais estão vivos e ainda juntos, considere-se uma pessoa muito rara. Se puder ler esta mensagem, você recebeu uma dupla benção, pois alguém pensou em você e você não está entre os dois bilhões de pessoas do mundo atual que ainda não sabem ler.”
O texto acima é de arrepiar, não é mesmo?! Então agora pelo menos pense se não vale a pena tentar refletir sobre os seguintes aforismos: “Trabalhe como se não precisasse do dinheiro; Ame como se ninguém nunca o houvesse feito sofrer; Dance como se ninguém estivesse olhando; Cante como se ninguém estivesse ouvindo; e Viva como se aqui fosse o paraíso.”
Para finalizar, vou citar aqui estes versos desta estrofe lapidal do genial mestre Gurdjieff: “EU SOU TU, TU ÉS EU, ELE É NOSSO, TODOS DOIS SOMOS SEUS. QUE TUDO SEJA PARA O NOSSO PRÓXIMO.”
E que assim seja, para o bem de todos, amem!

20051116

"Gotas de Esperança"

(Lynne Gerard)

“A sensação da solidão passa, assim como o inverno dá lugar à primavera. Você encontrará seu caminho para a felicidade assim como uma planta encontra seu caminho em direção ao Sol, crescendo, mudando e avançando. No dia em que você nasceu, em algum lugar, uma planta floriu, o Sol brilhou ainda mais forte, e, enquanto o vento se movia pelo oceano, ele sussurrou seu nome. Você é uma pessoa especial, e o mundo é melhor porque você existe. Sempre que sentir o cheiro da chuva, ouvir o canto dos pássaros, ou ver uma borboleta ao Sol, saiba que alguém pensa em você e lhe deseja muita paz. Quando nuvens de tempestade escurecerem seu mundo, lembre-se que a amizade lhe oferece um abrigo seguro onde você nunca está sozinha, pois nele encontra bem-estar, apoio e compreensão. Os dias frios, cinzentos e solitários não duram para sempre. Os pássaros sabem disso, é por isso que eles cantam. Não desista, não admita sentimentos de fracasso; dúvidas vão e vêm, assim como as estações do ano. Quando tudo o que é bom parecer perdido, lembre-se que a vida é um círculo, e a esperança mora no horizonte. Se você sente o calor do Sol em seu rosto, o cheiro da terra e o canto do rouxinol, então saiba que você é parte da natureza, com a sua própria singularidade, beleza e razão de ser. A vida não é sempre radiante, mas se o Sol brilha depois da pior tempestade, nós também podemos brilhar. Não importa quão frio o vento, quão escuro o dia; há calor dentro de um coração repleto de amor e compreensão. A natureza nos oferece o calor do Sol, o perfume das flores e o canto dos pássaros para nos fazer lembrar que não importa quão difícil a vida é; haverá sempre momentos de bondade, paz e oportunidade de crescimento. Alguns dias são melhores, outros, é melhor esquecer; mas assim que o anoitecer marcar o final do dia, pense nas coisas boas da vida, coisas inocentes e verdadeiras, e adormeça sonhando com a esperança que traz o amanhã. Quando o vento frio soprar desânimo em seu coração e o mundo parecer rancoroso, seja paciente e persevere, para que sempre voltem os momentos de bondade, amor e felicidade. Busque o vento para o seu sonho, depois deixe seu coração voar livremente, com coragem, fé, firmeza e sabedoria, e dê tudo de si. Cada dia que amanhece traz esperança e oportunidade de fazer os sonhos se tornarem realidade. Existe mágica na passagem do dia para a noite, assim como as cores que se desfazem no crepúsculo, trazendo esperança para um amanhã radiante. Você tem dentro de si mesma energia para vencer, pode transformar um obstáculo em um degrau que a leve um passo adiante na realização de seu sonho. Se nós possuímos a habilidade de sonhar, o potencial de realizar sonhos também é nosso. Estabeleça um objetivo e mantenha-se em sua trilha, e não deixe que os infortúnios da vida a desviem de seu caminho. Persistência, assiduidade e trabalho árduo nunca ficam sem recompensa, e os sonhos realmente tornam-se realidade. Para envelhecer bem, devemos continuar a sonhar, pois é a busca de sonhos que nos mantém jovens de coração. Reflita na vida sempre que possível; reserve tempo para recordar e ache tempo para sonhar. Encontre seu próprio caminho, vá com confiança, que surpresas boas virão.”
“Gotas de esperança”, de Lynne Gerard (Ed. Paulinas), para um dia especial, HOJE!

20051111

"A criança"

(Fagundes Varela)

“É menos bela a aurora,/ A neve é menos pura/ Que uma criança linda/ No berço adormecida!// Seus lábios inocentes,/ Meu Deus, inda respiram/ Os lânguidos aromas/ Das flores de outra vida!”

“O anjo de asas brancas/ Que lhe protege o sono/ Nem uma nódoa enxerga/ Naquela alma divina!// Nunca sacode as plumas/ Para voltar às nuvens,/ Nem triste afasta ao vê-la/ A face peregrina!”

“No seio da criança/ Não há serpes ocultas,/ Nem pérfido veneno,/ Nem devorantes lumes,// Tudo é candura e festas!/ Sua sublime essência/ Parece uma vaso de ouro/ Repleto de perfumes!”

“Mas ela cresce, os vícios/ Os passos lhe acompanham,/ Seu anjo de asas brancas/ Pranteia ou torna ao céu,// O cálice brilhante/ Transborda de absinto,/ E a vida corre envolta/ Num tenebroso véu!”

Depois ela envelhece,/ Fogem os róseos sonhos,/ O astro da esperança/ Do espaço azul se escoa,// Pende-lhe ao seio a fronte/ Coberta de geadas/ E a mão rugosa e trêmula/ Levanta-se e abençoa!”

“Homens! O infante e o velho/ São dois sagrados seres,/ Um deixa o céu apenas,/ O outro ao céu se volta,// Um cerra as asas débeis/ E adora a divindade,/ O outro a Deus adora/ E as asas níveas solta!”

“Do serafim que dorme/ Na face alva e rosada/ O traço existe ainda/ Dos beijos e dos anjinhos,// Assim como na fronte/ Do velho brilha e fulge/ A luz do infinito/ Aponta-lhe os caminhos!”

“Nestas infaustas eras/ Quando a família humana/ Quebra sem dó, sem crenças,/ O altar e o ataúde,// Nos olhos da criança/ Creiamos na inocência,/ E nos cabelos brancos,/ saudemos a virtude!”


Caminhar... é com a gente!

O Dr. Roberto Shinyashiki é médico psiquiatra e Diretor-Presidente do Instituto Gente, um Centro de Desenvolvimento Humano e Organizacional voltado à emergente área de Recursos Humanos. Conferencista e Coordenador de Seminários, também é internacionalmente famoso, não só por suas palestras na mídia informativa, mas, inclusive, pelos vários livros que já escreveu nessa área. Em seu livro O Sucesso é Ser Feliz ele diz:
"A infelicidade é um vício: O que muitas pessoas chamam de liberdade é, de modo geral, uma boa justificativa para o consumo de aditivos. Nossa sociedade está mergulhada em paliativos, que vão da droga mais pesada ao hábito mais banal. Sexo, brigas, roupas, comida, álcool, ginástica, calmantes, e até mesmo paixões seqüenciais são alguns dos vícios mais comuns que as pessoas adotam para enfrentar a atual insegurança em que vivem. Há pessoas que estão diariamente apaixonadas. Por isso começam e terminam relacionamentos apenas para experimentar a euforia que isso lhes traz. Os vícios funcionam como válvulas de escape de quem não quer se dar conta do vazio de sua vida. Nem mesmo a meditação e a terapia, técnicas criadas para auxiliar o homem a encontrar suas verdades, escaparam desse desvio. Para muitos elas funcionam como muletas que sustentam vidas construídas em cima de ilusões. Qualquer pretexto serve para encobrir a angústia e desperdiçar a vida até o momento em que a depressão ergue um espelho à nossa frente. Mas o pior é quando as pessoas viciam no sofrimento e não conseguem mais desfrutar suas vitórias. Às vezes, tudo está correndo bem à sua volta, mas elas preferem enxergar problemas onde existem apenas alegrias. A melhor cura do baixo-astral é abrir os olhos para o mundo. "

Resumindo tudo, a felicidade é feita de pequenas pérolas que cultivamos à cada momento, e, para que isso realmente aconteça, desenvolver hábitos que nos dê mais alegria é de fundamental importância, pois caminhar é ....

20051110

Sobre o "Buk"

Henry Charles Bukóvski Jr, esse é seu nome! O nome do autor que marcou a minha vida, pois foi lendo este livro de Bukóvski (Ereções, Ejaculações, Exibicionismos e outras sórdidas histórias) que eu descobri que também poderia um dia vir a ser um escritor, principalmente, de contos, crônicas e poesias... Inspirado pelos textos de Bukóvski, muitos dos quais estão inseridos neste livro, que, no conjunto de sua obra, também foi um de seus maiores sucessos editoriais, e também eu, relatando satiricamente a dança do prazer e do amargor de minhas andanças cotidianas de então, na flor de meus 28 anos bem vividos, que comecei a escrever a minha história.

Hoje, já quase cinquëntão, sempre que ouço falar do Buk ou mesmo quando leio algo assim mais informal sobre ele, fico refletindo sobre aqueles meus também assim nem tão velhos tempos, de passatempos desvairados, etílicos, espelhados nesse velho mestre de histórias safadas...

E quando isso me ocorre, pensamentos, devaneios, reminiscências vêm e vão; afloram em minha mente velhas lembranças desses textos lidos, sugados, espremidos de um limão, sobre aquele lirismo ácido de LA, comungados pelos contos do saudoso Buk, que me reforçam ainda nos dias de hoje um ímpeto súbito em correr ir procurar os seus livros, espalhados que estão por vários lugares e cantos, certamente escondidos por teias de aranha, para reler seus contos, crônicas, poesias.... e, assim, momentaneamente respirar novamente aquela minha inocente rebeldia das décadas de 70 e 80.

E uma vontade louca de correr na locadora procurar o filme Crônica de um Amor Louco, com Bem Gajarra e Ornela Mutti, que certamente não mais acharei; quem sabe talvez Bar Fly, com Mike Rourke e Mia Farrow, que concorreu em Cannes na década de 90... No caminho, parar para um chopp geladinho, rir e chorar, um pouco de cada coisa, curtir uma forte emoção e rabiscar alguns versos num guardanapo de papel.

Assim foi a minha reação quando literariamente conheci Bukóvski; e através de todos os seus múltiplos arquétipos contidos em sua vasta obra – identificada mais com Henry Chinaski – sempre moderna, atual, romântica, satírica, cheia de seus rompantes poéticos e etílicos de uma outra época, quando ele escreveu seus livros de contos, crônicas, poesias...

Quem o ler – jovem, adulto ou ancião – terá motivos para muitas reflexões e comparações, pois verá que o nosso mundo atual, quase meio século após, não é assim tão diferente... Se você estiver curioso, não vacile... viaje um pouco nas páginas e mais páginas do livro da vida de Bukóvski e depois tire a sua própria conclusão!

"Cantiga quase de roda"

(Thiago de Mello)

“Na roda do mundo/ lá vai o menino./ O mundo é tão grande/ e os homens tão sós./ De pena, o menino/ começa a cantar./(Cantigas afastam/ as coisas escuras.)/ Mãos dadas aos homens,/ lá vai o menino,/ na roda da vida/ rodando e cantando./ A seu lado, há muitos/ que cantam também:/ cantigas de escárnio/ e de maldizer./ Mas como ele sabe/ que os homens, embora/ se façam fortes,/ se façam grandes,/ no fundo carecem/ de aurora e de infância/ - então ele canta/ cantigas de roda/ e às vezes inventa/ algumas - mas sempre/ de amor ou/ de amigo.”

“Cantigas que tornem/ a vida mais doce/ e mais brando o peso/ das sombras que o tempo/ derrama, derrama/ na fronte dos homens./ Na roda do mundo/ lá vai o menino,/ rodando e cantando/ seu canto de infância.”

“Mas lá nas funduras/ do peito, outro canto/ lhe nasce e ressoa/ - erguido de assombros/ e de escuridões./ Vazio de infância,/ varado de dores,/ é o canto mais triste/ que as noites ouviram./ Porquanto o menino/ não deixa que o mundo/ lhe escute esse canto/ doloroso e inútil./ Pois sabe que os homens/ embora se façam/ de graves, de fortes,/ no fundo carecem/ de claras cantigas/ - senão ficam ocos,/ senão endoidecem.”

“E então ele segue/ cantando de bosques,/ de rosas e de anjos,/ de anéis e cirandas,/ de nuvens e pássaros,/ de sanchas senhoras/ cobertas de prata,/ de barcas celestes/ caídas no mar./ Na roda do mundo,/ mãos dadas aos homens,/ lá vai o menino/ rodando e cantando/ cantigas que façam/ a vida mais doce,/ cantigas que façam/ os homens mais crianças.”

“EPITÁFIO:/ O canto desse menino/ talvez tenha sido em vão./ Mas ele fez o que pôde./ Fez sobretudo o que sempre/ lhe mandava o coração.”

PS- com ordem do coração não se discute, “é preciso trabalhar todos os dias pela alegria geral; é preciso aprender esta lição todos os dias e sair pelas ruas cantando e repartindo, a mão cristalina, a fronte fraternal”...

20051109

Caminhar ... é reverenciar!

A reverência de hoje vai para o grande poeta maiakóvskiano Eduardo Alves da Costa (mestre Dudu), através do delicioso poema quase taoísta “As quinhentas donzelas do rei Tsin”, retirado de sua antologia poética (“No caminho, com Maiakóvski”):

“Iam as quinhentas donzelas/ do rei Tsin Shih-huang,/ entre procelas e calmarias,/ a caminho dos mares da China,/ em busca do elixir da longa vida./ Uma delas, quase menina,/ deteve-se junto a uma fonte/ e enquanto fazia que bebia/ lançou olhares ao poeta Huayang.”

“Pouco depois, foi o poeta/ à casa do amigo Tsungyuan/ que, banhado de suor,/ guardava o leito, a ver/ se despachava uma febre terçã./ ‘Se fosses um homem poderoso e rico - / disse Huayang, que ainda se achava/ no pico do monte Demente,/ embalado pelo olhar da gazela - / e visses da janela um mendigo/ a comer um dos teus muitos melões,/ serias capaz de castigá-lo?”

“Tsungyuan, que era um cínico,/ embora não entendesse nada de melões/ sabia que nos corações os sentimentos/ percorrem sinuosos caminhos/ e que as alegorias gastronômicas/ têm às vezes relação com as secretas/ reentrâncias das formas anatômicas./ ‘Não importa se o dono do melões - / disse afinal, a rir - é rico/ ou pobre; nem se os frutos/ são muitos ou poucos,/ desde que ao saciar a sede/ o ladrão seja discreto e não se deixe/ apanhar na rede.’ Huayang sorriu/ e pouco depois, quando o doente/ despertou de um cochilo,/ não mais o viu.”

“Na manhã seguinte, as quatrocentas/ e noventa e nove donzelas/ do rei Tsin Shih-huang/ seguiram viagem, à procura do elixir.”

Obviamente o poeta Huayang não foi pego em flagrante. No verão tudo é mesmo refrescante(melão com presunto, abacaxi com hortelã, hula-hula, ôba-ôba...). Também sigo o caminho, com Wladímir Wladímirovitch, pois caminhar é ...

Sobre o beijo

“O Beijo”, também faz parte de minhas aquisições bibliográficas. Antologia publicada pela “Litteris Editora” (1998), após concurso literário realizado em todo o Brasil. Deixando-se seduzir pela palavra, pelo beijo ardente de quem conta o conto, a poesia, e a crônica, a “Casa do Novo Autor” abriu o peito e se deixou apaixonar pelo universo de seus autores, numa seleção de 150 novos nomes.
Mil maneiras distintas de amar, mil formas de beijar. Nesse concurso o beijo se fez palavra e se transformou em livro, em história que é contada com a riqueza de detalhes que o tema sugere, onde, cada autor mostrou sua boca num beijo que se somou aos mais variados e sentidos amores (todos eles beijos de língua, é claro, mas de língua portuguesa!).

Numa antologia assim não vale um beijo roubado, vale sim um beijo estalado, dado de bem querer, dado para ser herdado por quem ama e é amado, por quem beija e é beijado, assim como quem joga a sorte do amor num jogo de dados, num exercício literário onde valem a rima e o gozo das palavras, numa espécie de brincadeira quase ‘infantil’ do beijo tomado emprestado, no escuro do esconde-esconde.

Infelizmente não fiquei sabendo desse concurso: teria mandado o meu poema “Beijo Azul: Se para alguém especial/ Hoje eu mandar um beijo,/ Ele será um beijo azul,/ De um grande azul celestial,/ Que sai do mar azul/ Que me inunda o peito/ E vai no azul do Céu/ Misturar-se ao seu leito./ Um beijo assim, azul,/ Que saiu do mar e foi ao Céu,/ Esse Céu azul de Brigadeiro,/ Que é cor de anis,/ No Céu reflete-se/ E volta ao mar,/ E se assim volta/ Foi porque eu quis/ Que assim ele voltasse/ Para que também de azul/ Por inteiro ele inundasse/ O coração desse alguém!”.

Oras bolas, a propaganda é a alma do negócio. Os prezados leitores hão de convir comigo que não poderia, neste momento de alegria, deixar passar “em branco” este meu “Beijo azul”, porque azul, para mim, é a cor do meu coração.

20051107

Sobre o Amor

"Muitas pessoas se dizem carentes de amor, de carinho, de afeto, de uma boa notícia, de uma relação desinteressada...; Elas até observam o amor em atitudes filantrópicas e beneméritas...; Também dizem que o amor existe através da relação pais e filhos, marido e mulher...; Assim, fazem do amor um ato isolado, sujeito a grandes desilusões.
Atualmente as pessoas estão valorizando os seus corpos e a sua qualidade de vida. Estão tornando-se freqüentadoras de academias de ginástica, clínicas de estética, centros de terapia, melhorando a alimentação e fazendo dietas. Com isso, estão esculpindo o corpo e trabalhando a mente para poderem conquistar o seu espaço no mundo.
Os meios de comunicação social valorizam o homem pela sua aparência, beleza, fama e poder econômico, visto que estes são aspectos relevantes do homem atual. Muitos tem dinheiro, carro do ano, privilégio..; mas, apesar de seus esforços para estar na moda, ao final de suas jornadas, são pessoas que sentem apenas um grande vazio interior.
O amor e o materialismo são duas vertentes totalmente antagônicas. Nas atuais relações humanas, o indivíduo é estimulado a ter para assim ser; o sentimento de posse prevalece; tem que ter um bonito corpo, ter dinheiro, ter fama, ter e ter, a fim de ser aceito. Este é o protótipo de homem que a sociedade quer.
Nos embates diários a humanidade gasta suas energias e muitas vezes não consegue repô-las. Não há nada que o homem tenha criado. Ele simplesmente transforma e utiliza aquilo que já existe. A energia que move o mundo é a energia do amor. Existe um princípio inteligente em tudo. O ‘acaso’ não existe, pois ele não opera no Universo.
O Sol é um exemplo vivo disto. Ele atravessa anos, séculos e milênios, regando o nosso planeta com seus raios e nos felicitando com sua beleza. Isto é amor. E o que ele nos pede em troca? Nada! Assim são as Estrelas, a Lua, o Orvalho, a Chuva e todas as coisas que a natureza nos propicia. Sendo assim, respiramos amor.
A energia do amor é parte de tudo, mas o ser humano não a sente porque ele é orgulhoso e egoísta, passando a maior parte de sua vida preocupado com a questão do ter. Para sermos verdadeiros, independente de termos ou não alguma coisa, temos que aprender a vencer o orgulho e despertar dentro de nós a centelha divina do amor. Aí então poderemos nos valorizar como seres humanos, pois seremos filhos do amor.
Assim, como já fazemos com os nossos corpos, devemos centralizar o foco de nossas consciências no amor e, quem sabe desta forma, possamos nos libertar um pouco mais do nosso egoísmo, para aproximarmos mais da questão do ser. A Fé, a ESPERANÇA e o AMOR permanecem, mas entre elas, a mais excelente é o AMOR.”


Obs: Síntese do texto: Agenda do Amor, Editora Escala.

20051104

"No caminho com Maiakóvski"

Recentemente me enfiaram güela abaixo uma indegustável criatura (confesso que foi um sapo!). Meu sistema digestório - coitadinho! - entrou logo em ação. Por conta própria também tomei uma dose dupla do magistral poema “No caminho, com Maiakóvski”, do mestre Dudu (Eduardo Alves da Costa).
Ei-lo: “Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói, assim me aproximo de ti, Maiakóvski. Não me importa o que me possa acontecer por andar ombro a ombro com um poeta soviético. Lendo teus versos, aprendi a ter coragem. Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história. Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. Nos dias que correm a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror. Os humildes baixam a cerviz; e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo, por temor nos calamos. No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante; mas amanhã, diante do juiz, talvez meus lábios calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir. Olho ao redor e o que vejo e acabo por repetir são mentiras. Mal sabe a criança dizer mãe e a propaganda lhe destrói a consciência. A mim, quase me arrastam pela gola do paletó à porta do templo e me pedem que aguarde até que a Democracia se digne a aparecer no balcão. Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar, que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas e o riso que nos mostra é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais. Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado, no plantio. Mas ao tempo da colheita lá estão e acabam por nos roubar até o último grão de trigo. Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós. Dizem-nos que é preciso defender nosso lares mas se nos rebelamos contra a opressão é sobre nós que marcham os soldados. E por temor eu me calo, por temor aceito a condição de falso democrata e rotulo meus gestos com a palavra liberdade, procurando, num sorriso, esconder minha dor diante de meus superiores. Mas, dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes, o coração grita - MENTIRA!”
Se sempre cito os poetas é porque acho que eles são as pessoas mais capazes de observar, ver com clareza e expressar as coisas da vida, eles não são como os burocratas, os poetas estão sempre olhando para a vida e, para os nossos males, descobrindo o antídoto...


Nasrudin, o mestre-nadador

Era uma vez um mestre-nadador. Numa tabuleta acima de sua porta estava escrito: “MULLA NASRUDIN, MESTRE-NADADOR; Salvamentos, Natação em todos os estilos - Água doce ou salgada”.
Um dia alguém bateu à porta. Nasrudin abriu e convidou o desconhecido a entrar. Feitas as apresentações de praxe, perguntou-lhe o motivo de sua visita. “Veja - respondeu o visitante - eu amo a natação, gostaria de me transformar em um bom nadador e não apenas saber boiar. Mas sei que me falta alguma coisa. E, se me permitir, para aprender a ser mais hábil na água gostaria de tê-lo como mestre, mas antes gostaria de saber o preço das aulas.”
Nasrudin expôs resumidamente seu programa de treinamento e depois disse: “Devo adverti-lo que meu método comporta etapas sucessivas: o primeiro estágio lhe custará 20 dólares a aula; o segundo, 15; o terceiro, 10; e o último estágio será quase grátis, 5 dólares a aula.” Ouvindo isso e dirigindo-se alegremente para a porta, o visitante respondeu: “Muito bem. Agradeço-lhe imensamente. Voltarei para o último estágio, pois ele me convém perfeitamente!”.



Sobre a Meditação Transcendental

Em 1957 Maharishi Mahesh Yogi criou o Programa de Meditação Transcendental (MT) e fundou o Movimento Mundial de Regeneração Espiritual, que rapidamente se difundiram, não só na Índia, como também em todo o ocidente.

A Meditação transcendental (MT) consiste simplesmente numa técnica mental, natural e fácil de aprender. Ela é praticada durante 15 a 20 minutos, duas vezes ao dia, da seguinte forma: sentamos confortavelmente com os olhos fechados e, mentalmente, também repetimos uma palavra em sânscrito ou um som (mantra). Durante esse período em que ela for praticada poderemos desfrutar de um repouso duas vezes mais profundo do que o do sono; esse estado de deslumbramento proporciona ao corpo um alívio do estresse, tensões e fadigas, que são as principais causas de nossos desequilíbrios físicos e mentais.

Devido ao ritmo acelerado da vida, nem sempre é possível desligar-se da atividade mecânica e, mesmo que o consigamos, a mente é incapaz de se aquietar naturalmente, devido ao estresse e tensões acumuladas. A técnica de MT nos permite que nossa mente se aquiete espontaneamente, alcançando um estado perfeitamente calmo, integrado e alerta, em que o corpo repousa profundamente.

A MT é uma técnica científica que não implica em nenhuma mudança de estilo de vida, hábito ou comportamento, e não entra em conflito com nenhuma crença ou prática religiosa. Mais de 500 estudos científicos nos últimos 30 anos, em mais de 200 Universidades e Institutos de Pesquisa, em cerca de 30 países, comprovaram os benefícios da MT em todas as áreas da vida: mente, corpo, comportamento e meio ambiente.

A essência da MT do mestre Maharishi está em seu livro “Ciência do Ser e Arte de Viver” onde ele nos ensina que não somos fragmentos isolados de inteligência, pois nossa mente, como um espelho, é capaz de refletir a sabedoria infinita do Universo, conforme foi descoberto na Índia há milhares de anos, pelos sábios védicos.

Em sânscrito Veda significa conhecimento pleno e, segundo o Maharishi, essa sabedoria védica pode ser praticada através de seu método de Meditação Transcendental, que não é uma panacéia, mas sim, na prática, “uma só solução para todos os nossos males”.

Por ser simples e fácil, a MT espalhou-se rapidamente pelo mundo, atraindo multidões de “almas” interessadas em desenvolver o seu grande potencial interior e, hoje em dia, ela é praticada por mais de 5 milhões de pessoas no mundo inteiro. Pessoas de todas as idades, culturas, profissões e religiões, que aprenderam diariamente, com ela, a desfrutar de seus múltiplos benefícios.

Neste seu livro este mestre associa as mais modernas descobertas científicas com as antigas noções de harmonia e consciência universal e nos propõe, com isso, uma nova maneira de aperfeiçoarmos nossa mente, nosso corpo, comportamento e sua indispensável interação com o meio ambiente.

Segundo o Maharishi, onde quer que se introduza a MT - da escola à saúde, da vida íntima às atividades profissionais - obtêm-se de imediato influências positivas, que se resumem numa única e singela mensagem: “todo homem nasce para viver uma vida livre de sofrimento , elevada paz espiritual, e alto nível de realização pessoal” o que, trocando em miúdos, também pode ser entendido como a tão almejada “iluminação interior”.

20051103

Insight light


Hoje em dia pouco se cria e muito se copia. Eu mesmo, como acho tudo bonito, sou um grande “copião”. O advento da NET (Internet) nos propicia um filão inesgotável de idéias, pensamentos, aforismos e filosofias alheias. Essa troca de mensagens é boa pois dissemina uma enorme quantidade de informação útil e agradável, uma real necessidade para suprir as nossas atuais carências de míseros e frágeis mortais.

Entretanto, estive pensando com os meus botões: nesta virada de milênio, um texto atribuído a Victor Hugo, grande escritor e poeta francês, foi um sucesso unânime em mensagem da EPTV, assim iniciada: “Desejo, primeiro, que você ame, e que, amando, também seja amado...”. Daí me lembrei que “Amar e Ser Amado” também é o título de um livro de Pierre Weil, conceituado psicólogo, que trata do relacionamento humano e da comunicação do amor. Nota-se aqui que ambos os autores concordam que primeiro é preciso amar, mas que, por analogia, a recíproca também seja verdadeira. Portanto, acredito eu que esse seja o grande mal da humanidade e também a fonte inesgotável da miséria humana. E justifico: como nós, quase sempre egoístas e mesquinhos, poderemos oferecer amor, sem ter a certeza de que a recíproca será verdadeira? Não será dela, dessa incessante dúvida, também a fonte de nossos incuráveis medos e de nossas angustiantes ansiedades? Nas palavras de Cristo está a resposta: “é dando que se recebe!”. Mas, amar, incondicionalmente, infelizmente nos faz recair na questão inicial (o que nos remete novamente a Shakespeare: “ser ou não ser?”).

Se esta minha reflexão está correta ou não, não sei dizer, mas, segundo Deepak Chopra (em “O Caminho da Cura”), “os insights são visões interiores, vindas da mente cósmica, que penetram nossos espaços silenciosos, trazendo conhecimento e transformação.” Assim sendo, prezados leitores, se avanço o sinal vermelho, amarelo, é porque verde está a cor do meu caminho e, segundo Gurdjieff, “este é o trabalho”.

20051101

Sobre o equilíbrio - O segredo para a tranqüilidade

A vida do ser humano funciona como o movimento de um pêndulo: din-don; tic-tac; prá-la, prá-cá; positivo, negativo; esquerda, direita; prá-cima, prá-baixo; etc... e, estas duas faces da mesma moeda refletem a dualidade presente na existência de todos nós.

Ocorre que a vida só existe se esse “mecanismo” estiver sempre em movimento (senão o relógio pára!) e o seu ponto neutro representa teoricamente o famigerado equilíbrio que faz com que a nossa vida adquira algum sentido (o tão necessário sentimento de paz interior!).

Só que esse ponto neutro, assim como tudo o que ocorre em nossas vidas, é ilusório. Ele existe sim, mas esse “mecanismo” tem de estar sempre em movimento, senão o corpo morre e, bem sabemos, um corpo morto não serve para nada e presta-se apenas para ser decomposto pela ação do tempo.

Disso tudo presume-se que a dualidade, mais o ponto neutro (de equilíbrio) formam a trindade e esse conjunto de “pontos” (a esquerda, a direita e o meio!) espelham a unidade, o absoluto. O ponto neutro representa a síntese de tudo o que existe, o ponto de equilíbrio entre a tese e a antítese. O Tai-Gi, aquele círculo com as duas partes em constante mutação, símbolo do Taoismo, mostra isso com perfeição e nos permite compreender com razoável discernimento o real sentido desta minha reflexão.
Assim entendo “O Caminho do meio”, como sendo a ponderação, a ação com equilíbrio, nem pendendo e nem se identificando com nenhum dos lados dessa “balança”, pois isso, positiva ou negativamente, nos traria muito sofrimento e miséria humana, pois nem tudo é bom e nem ruim. Para um existir, há que existir também o seu antípoda, o seu lado contrário, o reverso da moeda.

Esse “pêndulo” vai e vem, e esse movimento é sua função para que a vida possa continuar existindo. A energia, a matéria, a vida estão em constante vibração, tendendo a se sintonizar com a harmonia do cosmos, que é a fonte de sua origem.

É de “Lei” que isso aconteça, só o que o nosso “ser” não deve se identificar, se apegar, ou mesmo pender para nenhum destes dois lados desse “pêndulo”. Essa é a chave desta questão, “estar no mundo, sem ser do mundo”.

"O Entrave"

“... o que temos dentro de nós, é o que cria as nossas circunstâncias externas...”

(Sri Aurobindo)


“O Entrave”

(Sri Aurobindo)


“Quando tivermos passado além dos conhecimentos, então teremos o Conhecimento;
a Razão foi o auxílio, a Razão é o entrave.
Quando tivermos passado além do querer, então teremos o Poder;
o Esforço foi o auxílio, o Esforço é o entrave.
Quando tivermos passado além dos prazeres, então teremos a felicidade;
o Desejo foi o auxílio, o Desejo é o entrave.
Quando tivermos passado além da indivualização, então seremos pessoas reais;
o Ego foi o auxílio, o Ego é o entrave.
Quando tivermos passado além da humanidade, então seremos o Homem;
o Animal foi o auxílio, o Animal é o entrave.

Então...

Transforma tua razão em intuição ordenada;
que tudo em ti seja luz. Este é teu alvo.
Transforma teu esforço em um conhecimento igual e soberano da força da alma;
que tudo em ti seja força consciente. Este é teu alvo.
Transforma teu prazer em êxtase igual e sem objetivo;
que tudo em ti seja felicidade. Este é teu alvo.
Transforma o indivíduo dividido na personalidade universal;
que tudo em ti seja divino. Este é teu alvo.
Transforma o animal no Pastor de rebanhos;
que tudo em ti seja Krishna (Cristo). Este é teu alvo"

Sobre a Macrobiótica, uma Filosofia de Vida

A presente dissertação tem como base a doutrina da “Macrobiótica” pregada por George Ohsawa, em seu livro “Macrobiótica Zen - A Arte da Longevidade e do Rejuvenescimento”. O termo macrobiótica vem do grego: macro (grande) e bios (vida), ou seja, a técnica de longa vida.
Segundo ele, todas as grandes religiões nasceram no Oriente e, portanto, dele emana a luz. Graças a elas os povos orientais viveram em paz durante milhares de anos. Porém, tudo muda neste nosso mundo flutuante, efêmero e relativo em que vivemos. Os países da Ásia, África e América foram colonizados pela civilização ocidental e, assim, forçosamente abandonaram seus próprios costumes, culturas e tradições. Essa nova civilização importada tornou-se cada vez mais poderosa, as guerras mais cruéis e, hoje, em sua conseqüência, o mecanicismo cartesiano é a nova religião do homem. Assim, antagonicamente, de forma alguma a velha civilização oriental, da saúde, da liberdade, da felicidade e da paz, pode coadunar com a nova civilização científica e metódica do Ocidente.
Ohsawa diz: “Se vos decidirdes a estudar e a aplicar o princípio macrobiótico, uma filosofia de vida de mais de cinco milênios, a fim de sentirdes liberdade infinita, felicidade eterna e justiça absoluta, procuras compreender que isso somente poderá ser possível por vós mesmos, como fazem os pássaros, os insetos, os peixes e todos os animais. Antes de tudo procurais debelar vossa doença, conhecer sua natureza e suas causas. Se estiverdes somente interessados no desaparecimento dos sintomas, das dificuldades e da dor, esqueça portanto de aplicar em si próprio o princípio macrobiótico”. Para Ohsawa, a filosofia da medicina do Extremo oriente é auto-suficiente e, com ela, não há necessidade de qualquer outro ensinamento, pois dentro dele já está o princípio único da cura, e, em sua conseqüência, da plena saúde.
Segundo Ohsawa, “a felicidade é, neste nosso mundo, o objetivo de cada um de nós” e, para ele, no Oriente, ela foi definida pelos sábios como: (1) Alegria de viver, resultante de uma longevidade saudável, dinâmica e interessada; (2) Libertação da preocupação com respeito às posses e ao dinheiro; (3) Capacidade instintiva de evitar acidentes e dificuldades que possam nos conduzir a uma morte prematura; (4) Compreender, com amor, a ordem que governa o Universo Infinito; e, (5) Não sentir o desejo de ser o primeiro, por saber, intrínseca e naturalmente, que os últimos se tornarão para sempre os primeiros, pois, em nosso mundo, tudo muda, tudo se altera, nos negócios, na política, nas ciências, no matrimônio, e na vida. Assim, o que hoje é o ápice da onda e dos costumes, amanhã se tornará ocioso, inútil, e, portanto, dentro deste princípio, o homem humilde é aquele que não teme ser o último, pois já possui dentro de si esse conhecimento que é a essência da felicidade.

Toda a filosofia oriental consiste no ensinamento prático de como alcançar tal felicidade. É uma filosofia biológica, fisiológica, social, econômica e lógica. Segundo ela a felicidade pode ser alcançada por nós e para nós mesmos. Não existem tratados teóricos, mas somente práticos. A educação escolar é considerada como completamente desnecessária. Todos os grandes homens se fizeram por si mesmos e toda a educação profissional é considerada escravizante e, essa mentalidade, é a causa de toda infelicidade.
Explicar a filosofia Yin-Yang da felicidade, o conceito do discernimento supremo e a chave do Reino dos Céus, como pregaram Lao-Tsé, Song-Tsé, Buda e tantos outros, é, para Oshawa, desnecessário. Para ele a compreensão intelectual dessa filosofia será inútil se não for acompanhada de uma vivência diária cada vez mais intensa e feliz, pois não podemos aprender a dominar a maneira maravilhosa e aerodinâmica de nadar dos peixes, sem primeiramente entrar dentro d’água.
Quanto a isto ele acrescenta: “o caminho do estudo filosófico, intelectual, conceitual e teórico é longo, difícil, enfadonho, infrutífero e interminável”. E conclui: “esta filosofia denominada ‘ Princípio Único’ é a prática, uma disciplina de vida que qualquer um pode seguir com grande prazer, quando e onde quiser. Ela restabelece tanto a saúde como a harmonia da mente, da alma e do corpo, condição indispensável para uma vida plena e feliz.”