20060929

Brilho de Setembro

Os pirilampos brilham na noite a se atrair. São como namorados, encantados, a se procurar. Uma mútua atração tece na noite essa união e a festa acontece numa explosão de luz. A prole vem, nasce o dia, e tudo vira felicidade. Mas o dia também passa e, novamente, no céu da noite os pirilampos voltam a ofuscar o brilho das estrelas. Papo besta? Mas com isso o santo casamenteiro não deixou chover no seu dia e, ao contrário, obviamente, fez chover na minha horta.
A poesia é jóia rara, é perfeição. A poesia, como magia, de amor aquecida, só germina no solo fértil do coração. Setembro é o mês das flores, não das dores, sim de amores, pois em setembro se inicia a primavera. Setembro, para mim, também é um mês muito especial, pois foi neste mês que comecei a namorar minha esposa e também nele nos casamos. Desde então já se passaram quase vinte anos (que bodas serão?... de cristal!?) Quanto emoção nesse tempo todo – e como ela adora o Roberto Carlos..., então, como o tema de hoje é o amor e a poesia, eis abaixo algumas palavras de versos alheios:
“Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma./ A alma é que estraga o amor./ Só em Deus ela pode encontrar satisfação./ Não em outra alma./ Só em Deus – ou fora do mundo./ As almas são incomunicáveis./ Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo./ Porque os corpos se entendem, mas as almas não.” (Manuel Bandeira).
“Além da terra, além do céu,/ No trampolim do sem-fim das estrelas,/ No rastro dos astros,/ Na magnólia das nebulosas,/ Além, muito além do sistema solar,/ Até onde alcançam o pensamento e o coração,/ Vamos conjugar/ O verbo fundamental e essencial,/ O verbo transcendente, acima das gramáticas,/ E do medo e da moeda e da política,/ O verbo sempreamar,/ O verbo semprequerer,/ Razão de ser, razão de viver!” (Drummond).
“Aqui levanto,/ solene,/ minha estrofe de mil dedos/ e faço o juramento:/ Amo,/ Firme,/ Fiel,/ E verdadeiramente.” (Maiakóvski).
"... em noites lindas, minh´alma - aberta em flor - sonha contigo." (Casimiro de Abreu).
“Entendei, segundo o amor que tiverdes,/ tereis o entendimento de meus versos!” (Camões).
Antigamente, meu Mestre Cuca - o Chef Allan - sempre dizia: “Você é quem brilha!”. Então, para ele, hoje eu diria: “Meu Chef, com seu brilho de magia, quem brilha é a poesia, ela sim e não eu!”.

20060928

A Chuva

No verão a chuva vem forte e logo depois, como enxurrada, corre solta, pela sarjeta da calçada. Como tudo que é simples, como a natureza, ela segue em frente rumo ao mar. Quando chove forte, assim é, não é diferente. E para quem está a toa, a hora é boa para soltar barquinhos de papel. Então, por que não aproveitá-la? E se não há papel de folha de caderno - nem mesmo os do tempo de escola!? -, não faz mal, pois sempre há por perto um pedaço de jornal.
E quem souber escrever versos, nessa hora poderá escrever algo tipo assim: LÁGRIMAS DA NOITE, Gotas orvalhadas do luar, Como as lágrimas da chuva A nos encantar. Se estivesse um dia a contemplá-las, Debruçado ao batente de uma janela de madeira, Gostaria que fosse em um chalé, no "Vale das Rosas". Seria em uma noite chuvosa, como estas Que sempre ocorrem no verão. Mas com certeza ela ocorreria ao início da primavera. E se tivesse à mão um copo de bebida (Me sentiria muito bem se fosse um vinho frisante, Ou mesmo um champagne demi-sec), Sorveria-a, deliciosamente, Esperando as horas passarem. E se do canto do quarto Me viesse o som de uma melodia doce Que inundasse quase silenciosamente O ambiente a sua volta (eu estaria em êxtase, Se essa música Fosse a "Sonata ao Luar", de Beethoven). Misturaria esse raro momento de magia Com o encanto dessas lágrimas Vislumbradas ao luar. Seria um momento de poesia realmente inesquecível. E se às minhas costas, Repousando na cama de casal, Estivesse virginal donzela, Me sentiria ainda mais feliz. E quando estivesse inundado desse magistral encanto, Me viraria e iria até ela E abraçaria o seu lindo e meigo corpo desnudado. Afagaria seus negros cabelos caxeados E, aos seus ouvidos, Murmuraria doces versos de amor. E quando ela acordasse Com esse meu canto, Nossos ardentes e sedentos corpos Se juntariam e se fundiriam em um só. Seria um inesquecível momento de amor. Lágrimas da noite, como as lágrimas das alegrias passadas Das nossas vidas, Que os tempos levam e não trazem mais.
Vem a chuva e corre a enxurrada, pela sarjeta da calçada. Para a criançada a hora é boa para soltar barquinhos de papel e, porque não dizer também, pegar frieira no pé!

20060926

Eu tenho que ir

(uma letra de música para meu irmão caçula, o Havy Taxinha!)

Eu tenho que ir visitar o faquir
Eu tenho que ir visitar o faquir
Na sua gaiola tocando viola
Na sua gaiola tocando viola
Prá uma espanhola com a castanhola
Prá uma espanhola com a castanhola
Eu tenho que ir visitar o faquir
Eu tenho que ir visitar o faquir
Na sua gaiola com a espanhola
Na sua gaiola com a espanhola
EU TENHO QUE IR VISITAR O FAQUIR

20060925

Esquecimentos e inventamentos...

... foi porque, ver a lua, na sua rua, não saiu!

... transmigrassão = transmissão do voto (algo tipo assim, de pai para filho...)...

e por hoje chega de papoteios!

20060922

Eclipse

Vistes o eclipse da Lua?
Quem, na sua rua, não o viu,
Foi porque, na sua rua,
Não saiu!

20060919

Hipertensão

Tenho tontura,
Ter tontura é chique:
Coisa de madame
Cheia de chilique!

Tenho tontura,
Ter tontura é chique:
Coisa de velhinha
Com labirintite!

Tenho tontura,
Ter tontura é chique:
Coisa de bebum
Com mal de hepatite!

Tenho tontura,
Ter tontura é chique:
Coisa de maluco
Cheio de rebite!

Tenho tontura,
Ter tontura é chique!
Será a pressão
Que está no limite?

Tenho tontura...
Vamos lá, gente!
Ter tontura é chique:
....

PS: brincaderinha, minha pressão está ótima (12x8), apesar da idade...ri-ri-ri; é só um plágio de Drummond ("Rima da Eterna Repetição - Atirei um limão n'água,/ De pesado foi ao fundo,/ Os peixinhos responderam,/Viva D-Pedro II).

20060918

Lembre-se de mim

Lembre-se de mim quando despertar a manhã e, ouça, bela, o lindo canto dos pássaros, e se nessa hora houver maior encanto, minha Donzela, ele será por ti que que eu desejo tanto!
Lembre-se mim quando o sol raiar e e apontar seu rosto a nos animar, e se nessa hora houver maior encanto, minha Musa, ele será por ti que eu venero tanto!
Lembre-se de mim no apogeu do dia, reluzindo vida a nos alegrar e essa magia que só nos trás encanto, minha Princesa, faz lembrar-me de ti que eu almejo tanto!
Lembre-se de mim quando o sol cansou e lá no poente seu rosto pousou, resplandescendo em ouro num longo manto, tua face bela, aquela e única que eu adoro tanto!
Lembre-se de mim quando o luar chegar com sua luz alva a nos deslumbrar, e se nessa hora houver maior encanto, minha Amada, ele será por ti que eu quero tanto!

20060915

Para eu ler e praticar

Muitos conceitos devem ser repetidos sempre, senão o bicho pega!

1- Alimentar-se bem: uma boa saúde depende de uma boa alimentação. Ela vai além da quantidade e qualidade do que estamos ingerindo. É incontestável a importância de uma dieta equilibrada que supra as nossas necessidades, mas é importante também estar atento à outros fatores de menor relevância que estão relacionados ao hábito alimentar e que podem prejudicar o bom funcionamento do organismo. NA HORA DE COMER, DEVEMOS: evitar fazê-lo em locais barulhentos; mastigar bem os alimentos; evitar refeições pesadas e ricas em proteínas e gorduras, preferindo aquelas equilibradas, variadas, vegetarianas; não ingerir líquidos; não ler, assistir televisão ou se plugar na Internet e muito menos COMER DEITADO (essa é para meu irmão caçula, “Heavy Taxinha”, que sempre o faz!); nunca abusar no sal e, cabe aqui lembrar que MUITAS FAMÍLIAS tem o costume religioso de fazer uma oração, sempre antes de iniciar a refeição, agradecendo o alimento recebido (essa é para meu saudoso irmão mais velho, “Tito”, que também sempre o fez!); e, àqueles que, como eu, gostam de cozinhar, ressalte-se sempre, refogar os alimentos apenas em água, cozê-los no vapor ou em fogo brando e selecionar criteriosamente os diversos tipos de alimentos quando for prepará-los!
2- Realizar atividades físicas regulares: o ritmo agitado da vida moderna, a falta de tempo, o trabalho e a comodidade dos aparelhos eletrônicos são alguns dos fatores que contribuem para uma vida sedentária. A falta de uma atividade física regular pode prejudicar a circulação, o coração, a respiração, enfim, o bom funcionamento de todo o organismo. Quem se encaixa neste quadro, pode mudá-lo sem grandes preocupações ou esforços. Basta acostumar-se a um hábito simples: andar. Caminhar é um dos exercícios mais fáceis que existe e pode proporcionar maravilhas ao corpo humano. Só necessitamos de roupas leves e confortáveis, apropriadas para a prática esportiva e podemos realizá-lo em diversos lugares, como praças, ruas, parques, etc..; Uma hora de caminhada diária traz benefícios que muitos nem imaginam: fortalece a musculatura das pernas; ajuda a controlar a pressão arterial; reduz os níveis de triglicérides e colesterol; melhora a circulação sangüínea; aumenta a densidade óssea; melhora a capacidade respiratória e ajuda a emagrecer. Entretanto, antes de começar qualquer programa de exercícios físicos regulares, consulte o médico.
3- Descansar o corpo: isso é tão importante para o nosso organismo quanto estar em atividade. É através do descanso que o nosso corpo recupera as energias gastas. Para uma vida mais saudável também é essencial respeitar as horas de ócio e realizar exercícios de relaxamento. Para recuperar as energias é essencial dormir no mínimo oito horas por dia; durante o sono evitar barulhos e luzes fortes; reservar um tempo para passear, conversar, fazer novas amizades e aproveitar os finais de semana para o nosso próprio lazer.
4- Evitar o estresse: ele pode ser definido como um estado de alerta do organismo onde ocorre uma rápida liberação de mediadores químicos (cortisol, aadrenalina, etc...) que, quando constantes, podem levar-nos à um desgaste físico e psicológico. Apesar de ser um mal necessário, o estresse ajuda a manter a atenção, a concentração e acelera o ritmo biológico, mas, em excesso, pode trazer muitos riscos à saúde, principalmente ao coração e ao sistema imunológico. Para viver de bem com a vida e com muito mais saúde é preciso controlar este mal, evitando que ele se torne uma constante em nosso dia-a-dia. Podemos controlar o estresse: praticando exercícios físicos; respeitando o descanso; estabelecendo objetivos realistas para evitar ansiedades e decepções; procurar trabalhar naquilo em que gostamos e dar valor às coisas que nos dão prazer.
Álvaro, atenção, isso não é utopia. E o exemplo prô Bobby Filho (que já está obeso), como é que fica? Isso, isso, isso....

20060914

Sobre a cacofonia

A cacofonia é o vício de linguagem onde o encontro de duas palavras origina, foneticamente, uma terceira, geralmente de sentido desagradável, obsceno ou chulo. Se hoje me dedico ao tema é porque, de repente (“não mais que de repente”, saudoso Vinícius!), pelas mãos da simpática Giovana (da “Banca Gigante” do meu amigo “Odair Cabelo de Anjo”!) eu adquiri o livro “Claro Enigma”(da coleção “Mestres da Literatura Brasileira e Portuguesa”), do genial e saudoso mestre Carlos Drummond de Andrade.
Na página 51 (mas que boa idéia!) encontrei o poema “Entre o ser e as coisas”, que começa assim: “Onda e amor, onde amor, ...”. Em seguida matutei: “mas que bonita cacofonia!” Depois, refletindo sobre ela, confabulei com os meus botões: “Nos tempos atuais a onda é ficar! Aonde ficar? Que tal no escurinho do cinema?”.
Estou eu aqui neste doce deleite sem poder comer doce algum, nem de leite ou sequer mesmo uma paçoquinha, que não é de leite mas é de amendoim! Deleite mesmo (deleite e de leite!), se pudesse escolher, seria aquele delicioso pavê (“pá vê ou pá comê?”) que a minha sogra costuma preparar sempre nos almoços dominicais.
Meu amigo “Monkey Casacão (1.1)” me deu uma mão: “abunda a branca névoa em densa e fria madrugada, e que venha a luz do sol clarear o chão da minha estrada”, pois “no meio do caminho tinha uma pedra/ tinha uma pedra no meio do caminho ...”.
O meu amigo nº 1, fez aniversário. Eu ouvi alguém - ELA! - gritar: "e prô Pin nada! Prô Pin...".
Cacofonia, êta nome feio, sô!

20060913

"O Tao antigo, orienta as contigências atuais"

"Produzir sem tomar para si
Agir sem esperar coisa alguma
Guiar sem contrangir
Eis a virtude suprema"

(Lao Tsé)

20060912

O discípulo e seu mestre.

O discípulo praticava há algum tempo. Em determinado dia foi ver o mestre. Estava chovendo e, quando ele chegou, deixou os sapatos e o guarda-chuva do lado de fora. Entrou e depois que prestou homenagem ao mestre, este perguntou-lhe de que lado de seus sapatos ele deixara seu guarda-chuva.
Que tipo de pergunta foi essa? Os discípulos não esperam que os mestres façam essas perguntas sem nenhum sentido. Eles esperam que seus mestres lhe perguntem sobre Deus, kundalini, chacras, karmas, dharmas, coisas ocultas, esotéricas... Mas o mestre lhe fez uma pergunta muito comum: “de que lado de seus sapatos ele deixara o guarda-chuva”. O discípulo ficou intrigado: “o que sapatos e guarda-chuvas têm a ver com a espiritualidade?”
Mas há algo de imenso valor nela. Se ele houvesse perguntado sobre o que ele tinha estudado, nada disso teria sentido. Mas havia um grande sentido nessa pergunta. O discípulo havia acabado de chegar e já não conseguia mais se lembrar do que havia feito momentos antes. Quem se preocupa onde deixou os seus sapatos e de que lado colocou o guarda-chuva, à esquerda ou à direita? Quem se importa? Quem presta tanta atenção assim a guarda-chuvas? Nós não vivemos esquecendo os nossos guarda-chuvas por aí? Quem pensa em sapatos? Quem é tão cuidadoso assim?
Mas, para o mestre, isso era o bastante! O discípulo foi recusado. O mestre disse: “Vá e medite durante sete anos”. “Sete anos?”, disse o discípulo, “apenas por causa desse pequeno engano?”. O mestre disse: “Não foi um pequeno engano. Os enganos não são pequenos ou grandes. Você ainda não está vivendo em meditação, é apenas isso. Retorne, medite durante mais sete anos e depois volte aqui”.
Essa é a parte essencial da mensagem desta história: tenha cuidado com todas as coisas. E não faça distinções entre elas, dizendo que uma é trivial e a outra é espiritual. Tudo depende de você. Preste atenção e seja cuidadoso: tudo se tornará espiritual. Não preste atenção e não seja cuidadoso: tudo será trivial.
A espiritualidade é atribuída ás coisas por você, é seu presente para o mundo, está no seu olhar, no seu pensar, no seu agir. Pense nisso e lembre-se: quando o discípulo está pronto o mestre reconhece!

P.S. – Texto adaptado do OSHO (Bagawan Sri Rajeenesh).

20060911

Saudade

Eu é que sou feliz?
Isso é você quem diz!
Quisera poder eu ter
Alegria em meu viver.

Estar às vezes sorrindo
Não traduz felicidade,
Mas sim algo refletindo,
De alguém sentindo saudade.

Você pode achar estranho
E considerá-la diferente,
Haver coisa desse tamanho,
Própria de quem é inocente.

Será assim tão inútil,
Por qualquer motivo fútil,
Na vida em algum momento,
Expressar esse sentimento?

Já tivestes alguma paixão?
Se pensares com afinco,
Não contarás até cinco,
Para me dar a razão.

Saudade, esse sentimento,
Me vem hoje à lembrança,
Não me traduz esperança,
Só me traduz sofrimento.

20060906

Doce é sentir

Doce é sentir em meu coração
Humildemente vai nascendo o amor
Doce é saber, não estou sozinho
Sou uma parte de uma imensa vida
Que generosa reluz em torno a mim
Imenso dom do teu amor sem fim

O céu nos deste e as estelas claras
Nosso irmão Sol, nossa irmã, a Lua
Nossa mãe Terra, com frutos, campos, flores

O fogo e o vento, o ar e a água pura
Fonte de vida de tua criatura
Imenso dom do teu amor sem fim
Imenso dom do teu amor sem fim!!!

Obs: Texto da letra da música central do filme "Irmão Sol, Irmão Lua", sobre a vida de São Francisco de Assis.

20060905

Alquimia

Quem pede um rosto?
É para olhar!
Quem pede um ombro?
É para chorar!
Quem pede braços?
É para abraçar!
Quem pede mãos?
É para tocar!

Na alquimia,
Se existe alguém
Que cede ao outro
Todo o seu corpo,
É para poder,
Com amor e poesia,
Todo o ser
Lhe entregar!

20060904

Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA)

- Bobby Filho?
- Bobby Filho meu!?
- Existe na face da terra um Bobby Pai mais bonito do que eu!?
- Ãhnn...

PS- Está aqui um exemplo clássico de DDA familiar genético de características positivas: a infantilidade do pai e a dispersividade do filho! Também, pudera, depois que fizemos aquele teste em que eu imaginei um alicate de cabo azul e ele uma chave de fenda de cabo verde, enquanto que 97% das pessoas que fazem esse teste dizem visualizar um martelo de cabo vermelho, posso então concluir que - Bobby Pai e Bobby Filho! - são mesmo espaciais, digo, especiais!

20060901

Navegando com Barão de Itararé

"Quando a violência da ditadura torna-se intolerável, às vezes uma das poucas armas de resistência popular é o humor. E disso entendia muito bem o jornalista Aparício Torelly, autonomeado com o pseudônimo de Barão do Itararé, vereador do Rio de Janeiro, eleito e cassado em 1947 pelo Partido Comunista, para enfrentar tanto a polícia secreta do Estado Novo, como a democracia pós-45 que colocou seu partido na ilegalidade. Uma de suas máximas é que, cansado de apanhar ao ser preso, inventou a famosa frase "Entre sem bater", que acabou se tornando um corriqueiro lembrete de cortesia nas portas de escritórios."
"O apelido Barão de Itararé, inventado por ele, foi criado para gozar a famosa batalha de Itararé, que nunca houve. Nesta cidade, os revoltosos constitucionalistas de São Paulo se concentraram para barrar as forças do Governo Provisório de Getúlio Vargas, as quais apenas passaram ao largo, ignorando completamente os valentes combatentes paulistas."
O Barão de Itararé foi um mestre do humor, então, abaixo eu compartilho um de seus textos que selecionei para ilustrar o seu raro talento:

“A vida tem surpresas admiráveis. Surpresas e lições de estarrecer. Há certos fatos, porém, que não nos causam nenhuma admiração. Não porque não sejam em si admiráveis, mas porque eles nos deixam bestificados que nos tiram até a capacidade de raciocinar. É verdade que a capacidade de abrir mais ou menos a boca, movida pelo espanto, varia de indivíduo para indivíduo. Uns esbugalham os olhos diante do fenômeno mais natural, ao passo que outros acham mais que natural o fenômeno mais esbugalhante. Os que se julgam espertos acham que só os tolos se admiram. Os que se maravilham de qualquer coisa, por sua vez, se surpreendem da impassibilidade dos sabidos, aos quais consideram lamentáveis cegos e inconscientes. O ladino se admira do tolo e não pode compreender como este possa se admirar de uma bobagem. O tolo, por seu turno, se admira de que o ladino não se admire de coisa alguma, quando ele próprio acha tudo admirável. O tolo se admira de tudo porque vê em tudo uma verdade para ser admirada. O tolo, então, raciocina e tira uma conclusão e, portanto, não é tolo. O inteligente vê o fenômeno e não se admira, porque não vê nada de admirável no que vê. Mas o homem que não chega a ver até o que os tolos vêem não pode ser um homem inteligente. De tudo isso só se pode concluir que o tolo, afinal, é um inteligente e que o inteligente é um tolo. Não é isso admirável?”.