Caminhar ... é reverenciar!
A reverência de hoje vai para o grande poeta maiakóvskiano Eduardo Alves da Costa (mestre Dudu), através do delicioso poema quase taoísta “As quinhentas donzelas do rei Tsin”, retirado de sua antologia poética (“No caminho, com Maiakóvski”):
“Iam as quinhentas donzelas/ do rei Tsin Shih-huang,/ entre procelas e calmarias,/ a caminho dos mares da China,/ em busca do elixir da longa vida./ Uma delas, quase menina,/ deteve-se junto a uma fonte/ e enquanto fazia que bebia/ lançou olhares ao poeta Huayang.”
“Pouco depois, foi o poeta/ à casa do amigo Tsungyuan/ que, banhado de suor,/ guardava o leito, a ver/ se despachava uma febre terçã./ ‘Se fosses um homem poderoso e rico - / disse Huayang, que ainda se achava/ no pico do monte Demente,/ embalado pelo olhar da gazela - / e visses da janela um mendigo/ a comer um dos teus muitos melões,/ serias capaz de castigá-lo?”
“Tsungyuan, que era um cínico,/ embora não entendesse nada de melões/ sabia que nos corações os sentimentos/ percorrem sinuosos caminhos/ e que as alegorias gastronômicas/ têm às vezes relação com as secretas/ reentrâncias das formas anatômicas./ ‘Não importa se o dono do melões - / disse afinal, a rir - é rico/ ou pobre; nem se os frutos/ são muitos ou poucos,/ desde que ao saciar a sede/ o ladrão seja discreto e não se deixe/ apanhar na rede.’ Huayang sorriu/ e pouco depois, quando o doente/ despertou de um cochilo,/ não mais o viu.”
“Na manhã seguinte, as quatrocentas/ e noventa e nove donzelas/ do rei Tsin Shih-huang/ seguiram viagem, à procura do elixir.”
Obviamente o poeta Huayang não foi pego em flagrante. No verão tudo é mesmo refrescante(melão com presunto, abacaxi com hortelã, hula-hula, ôba-ôba...). Também sigo o caminho, com Wladímir Wladímirovitch, pois caminhar é ...
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