20061024

"Receita Médica" - Barão de Itararé

(Sobre como devemos tomar os nossos remédios)

Quando estamos doentes, afinal não temos outro remédio senão tomar remédio. O remédio, aliás, sempre faz bem. Ou faz bem ao doente que o toma com muita fé; ou ao droguista que o fabrica com muito carinho; ou ao comerciante que o vende com um pequeno lucro de 300%.
Mas, apesar do bem que fazem, devemos convir que há remédios que são verdadeiramente repugnantes, que provocam engulhos e violentas crises de repulsa do estômago. Como devemos tomar esses remédios repugnantes? Aí está o problema que procuraremos resolver para orientar os nossos dignos e anêmicos leitores.
O melhor meio de vencer as náuseas, quando temos que ingerir um remédio repelente consiste em recorrer à lógica dos rodeios, adotando os métodos indiretos, até chegar à auto-sugestão, transformando assim o remédio repugnante numa coisa que seja agradável ao paladar. Numa palavra, devemos tomar o remédio com cerveja, por exemplo.
Como devemos proceder para chegarmos a esse magnífico resultado? É indispensável comprar, antes do remédio, uma garrafa de cerveja. Depois é necessário bebê-la devagar, saboreando-a, para sentir-lhe bem o sabor. Liquidada a primeira garrafa, pedimos outra cerveja, e vamos tomá-la de outra forma, também devagar, mas com a idéia posta no remédio, cuja lembrança naturalmente nos provocará asco. Para voltarmos ao normal encomendamos uma terceira garrafa, com a qual já iremos dominando e vencendo a repugnância. Na altura da quinta ou undécima cerveja, nós já estaremos convencidos de que o gosto do remédio deve ser muito semelhante ao da cerveja e, assim, já podemos beber calmamente o remédio como cerveja. Mas, como não temos o remédio no momento e já não temos muita força nas pernas para ir à farmácia, continuamos a beber a infusão de lúpulo e cevada, até chegarmos à notável conclusão: se é possível chegar a tomar um remédio repugnante como cerveja, muito mais lógico será que passemos a tomar cerveja como remédio, porque a ordem dos fatores não altera o produto, quando está conveniente engarrafado.

PS1- Texto extraído do livro “Máximas e Mínimas do Barão de Itararé”, da Editora Record (RJ), 1986, página 33, uma coletânea organizada por Afonso Félix de Souza;
PS2- Post dedicado ao"Mestre", com carrinho, digo, carinho!

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Tá doente Álvaro?
Tomara tudo isso sobre P.A's e afins sejam somente esclarecimentos sempre úteis e convenientes para todos nós.
Muito interessante esse aprendizado, obrigada querido
Lindo dia
beijossssssssssss

10:56 AM  
Blogger BlueShell said...

Só posso agradecer com uma lágrima, sem cor, a tua visita e as tuas palavras.
Mais do que nunca o meu Muito Obrigada!
BShell

1:04 PM  
Anonymous Anonymous said...

Gostei DEMAIS desse texto, Álvaro.

Para mim este é um texto seu, intrometido esse Barão de Itaquaquaquecetuba, Ubaré ou Itararé, sei lá!

E aceito a dedicatória com muito carinho e satisfação. Há uma condição minha para isso - lógico, um tanto esdrúxula - mas você certamente me entenderá. Todas as garrafas dessa história têm três metades, certo? Tem que ter!

:)

Abraços lupulosos.

9:43 PM  

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