Coração de metal
No quadro verde e aveludado de afixar recados que existe em meu local de trabalho, dias destes, com os muitos percevejos que nele estavam soltos e sem nenhuma utilidade naquele momento, fiz um coração de metal.
Isto pressupõe, obviamente, que os recados eram poucos. Então, naquele quadro aveludado, arrumei um a um os percevejos soltos e, na proporção e espaço disponíveis, exatos, deixei ali o meu recado, muito especial, através daquele meu coração de metal.
Com aqueles simples percevejos, amarelinhos, redondinhos e com uma haste pontiaguda no meio, espaçando-os corretamente no feltro aveludado, espetando-os novamente, fiz nele um coração bem legal, meu coração de metal.
E isso feito, por razões da vida que a gente desconhece, fiquei feliz e muito contente. Dentro de mim brotou uma felicidade imensa, radiante e resplandecente. Acho que quem me visse naquele momento poderia talvez ver em mim uma grande aura de felicidade irradiando de meu ser.
Depois disso passei a vigiar periodicamente este meu coração. Por complacência de alguns, impercepção de outros ou mesmo ignorância de todos, meu coração de metal agüentou firme em seu lugar por um bom tempo.
Até que num outro dia alguém flexou meu coração com a seta de Cupido. Fiquei contente, obviamente, pois isso foi um bom sinal. Mas minha alegria durou pouco, pois logo depois em seu lugar fizeram uma cruz. “Pronto, pensei com meus botões, é sempre assim, quando estou bem feliz, me matam!”.
Não deixei a peteca cair: se era guerra que queriam, guerra teriam! Sem nenhuma ideologia política, mas apenas para impressionar, redimensionei os percevejos com a cruz da suástica. Surtiu efeito, pois depois disso, em seu lugar, apareceu um círculo...; E como sobrassem percevejos, à sua frente acrescentei um “I”, resultando no quadro um “OI”.
Mas, passado alguns dias, depois disso tudo, os recados voltaram com força e todos os percevejos do quadro foram utilizados para o seu real serviço. Apesar disso tudo, relembrando os fatos, fico sempre a imaginar quão importante é a força de um coração, mesmo que seja ele um simples coração de metal!
2 Comments:
Nem brinque com esse negócio de suástica não, caro Álvaro...
:(
:(
:(
Uau!! que lindo!!
Tomara diminuam os recados e seu coração "que não é de papel" possa reinar absoluto no verde aveludado da parede do seu trabalho.
Adorei esse post,adorei!!
beijossssssssssssss
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