20060829

"Sobre a expansão do silêncio"

“O silêncio estava em toda parte; impressionante quietude em que a imobilidade dos montes envolvia também as árvores e os rios, cujos leitos haviam secado; os pássaros dormiam em seus abrigos e até mesmo os cães da aldeia tinham silenciado. Após a chuva, as nuvens pairavam imóveis no Céu. Na amplidão do silêncio que se tornava cada vez mais vasto e profundo, a realidade do mundo exterior confundia-se com o Universo Interior. Tendo percebido o silêncio dos montes, dos campos e dos bosques, o cérebro aquietara-se. Por haver perscrutado atentamente seu interior, era natural e espontânea esta sua quietude. Ainda que estivesse sempre pronto a investigar profundamente tudo o que existisse, ele não havia abandonado os seus mais íntimos recantos. Como o pássaro que encolhe as asas em seu vôo, o cérebro fechou-se sobre si mesmo, sem demonstrar sono ou letargia, e, ao fazê-lo, transcendia seus próprios limites. De caráter essencialmente superficial, as atividades do cérebro são destituídas de profundeza, sendo quase sempre mecânico; suas ações e reações visam a resultados imediatos. Seus pensamentos e sentimentos não vão além da superfície, ainda que se estendam ao passado e ao futuro. A experiência e a memória têm a medida exata de seu estreito limite, mas, ao debruçar-se sobre si mesmo, o cérebro não mais buscava experimentar no nível interior ou exterior. A consciência, formada por fragmentos de todas as experiências, compulsões, medos, esperanças e desesperos, tanto do passado como do futuro, dos conflitos sociais, morais e raciais, e de suas atividades egocêntricas, estava ausente. Assim, absolutamente tranqüilo, aquele ser pôde alcançar uma profundidade inacessível ao pensamento, ao sentimento e à consciência, e, incapaz de penetrar na esfera do desconhecido, o cérebro, perante aquela imensidão, era destituído de observador. Apesar de imóvel, cada partícula do ser estava alerta e sensível a tudo aquilo que estava ao seu redor e, em ondas de contínua expansão, esta incrível profundidade transcendia o tempo e o espaço.”

Este texto de Krishnamurti é mesmo muito lindo, pois ele é poético, místico e filosófico. Quem o ler e não entender – comigo foi igual -, não se preocupe, pois há tempo – muito tempo ainda! – para isso acontecer!

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Terei que ler e reler para entender e fiquei aliviada ao saber que com vc também foi assim..
Linda noite de silêncio e paz
beijossssssssss

4:34 PM  
Anonymous Anonymous said...

Fiquei zen palavras, Álvaro. Muito bom mesmo. Abrs.

8:36 AM  

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