Sobre a chuva
No verão a chuva vem forte e logo depois, como enxurrada, corre solta, pela sarjeta da calçada. Como tudo que é simples na natureza, ela segue em frente, rumo ao mar. Quando chove forte, assim é, não é diferente. E para quem está a toa, a hora é boa para soltar barquinhos de papel. Por que não aproveitá-la? E se não há papel de folha de caderno - nem mesmo os do tempo de escola!? -, não faz mal, pois sempre há por perto um pedaço de jornal.
E quem souber escrever versos, nessa hora poderá escrever algo mais ou menos assim: LÁGRIMAS DA NOITE, Gotas orvalhadas do luar, Como as lágrimas da chuva A nos encantar. Se estivesse um dia a contemplá-las, Debruçadado ao batente de uma janela de madeira, Gostaria que fosse em um chalé, no "Vale de Rosas". Seria em noite chuvosa, Como estas de agora Que sempre ocorrem no verão! Mas, com certeza, Ela ocorreria no início da primavera. E se tivesse à mão um copo de bebida (Me sentiria muito bem se fosse um vinho frisante, Ou mesmo um champagne demi-sec), Sorveria-a, deliciosamente, Esperando as horas passarem. E se do canto do quarto Me viesse o som de uma melodia brana Que inundasse quase silenciosamente O ambiente a sua volta (Eu estaria em êxtase, Se essa doce música Fosse a 'Sonata ao Luar', de Beethoven). Misturaria esse raro momento de magia Com o encanto dessas lágrimas Vislumbradas ao luar. Seria um momento de poesia realmente inesquecível. E se às minhas costas, Repousando na cama de casal, Estivesse virginal donzela, Me sentitia ainda mais feliz. E quando estivesse inundado Desse magistral encanto, Me viraria e iria até ela E abraçaria o seu lindo E meigo corpo desnudado. Afagira seus negros cabelos cacheados E, aos seus ouvidos, Murmuraria doces versos de amor. E quando ela acordasse Com esse meu canto, Nossos ardentes e sedentos corpos Se juntariam e se fundiriam em um só. Seria um inesquecícel momento de amor! Lágrimas da noite, Como as lágrimas das alegrias passadas Das nossas vidas, Que os tempos levam E não trazem mais.
Vem a chuva e corre a enxurrada, pela sarjeta da calçada. Para a criançada a hora é boa para soltar barquinhos de papel e, porque não dizer também, pegar frieira no pé!
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